quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Apelo de uma mãe - por Marcia de Souza

                                                              Apelo de uma mãe           

Hoje eu acordei do que pensei ser um pesadelo
Nele, via minha mãe sofrendo, chorando,
Eram tantas as suas dores, tantas as suas perdas,
Gritos, lamúrias, que juro ter ouvido sua voz murmurando:
“Ajude, por favor, me ajude”...
Mas quando estendia minhas mãos tentando alcança-la,
Pegava o vazio, abraçava o nada, o vento e o frio.
As lágrimas me escorriam pelo rosto,
E meu coração batia descompassado temendo por ela.
No sonho, o sofrimento era eterno, interminável,
Em um lampejo, labaredas imensas subiam,
Ela ardia em meio às chamas, e ao mesmo tempo,
Tinha suas entranhas arrancadas, esfaceladas.
Minha alma chorava, sofria com sua dor,
Eu clamava: piedade, por favor, piedade,
Ela é minha mãe, é inocente, pura...  mãe...
Uns poucos ouviam e vinham ajudar,
Mas muitos cruzavam seus braços, inertes, catatônicos,
Viam mas não ligavam não se importavam.
O que não nos toca, não nos atinge, pensavam,
E parados estavam, parados ficavam,
Assistindo a tudo, como se assiste a um filme,
Comendo pipocas, esperando acabar...
Mas mãe é sagrada, é vida, é quem gera a vida,
Não devia sofrer sem motivo, sem que, nem por que.
E então, o que faz do homem um torturador,
Manipulador, interesseiro e ganancioso?
O que faz do homem um predador sem limites,
Que mata a mãe dos outros, sem dó, sem pensar?
Acordei e vi que minha pobre mãe ainda chorava,
Ainda gritava, sofria, clamava...
A minha mãe, sua mãe, nossa mãe,
Que é mãe dele também,
Está sendo assassinada diante de nossos olhos,
A cada manhã, cada novo amanhecer,
E nem você, nem eu, nem ele,
Tentamos ajudá-la, tentamos protege-la.
Ao acordar, vi na tv que esqueci ligada,
Toda a maldade que podemos fazer,
Vi a mãe Terra, minha mãe, nossa mãe,
Sendo queimada, destroçada, esfolada,
Vi meus irmãos, ditos irracionais, sendo mortos,
Por esporte, por ganancia, por maldade.
Vi um vislumbre do que está por vir e virá...
Vi que por falta de amor, de fé, de coragem,
Estamos deixando que matem,
Estamos deixando que morram,
E com pás grandes cavamos,
Às pressas e com passos largos,
A cova de nossa mãe, a nossa própria cova.