terça-feira, 10 de novembro de 2015

Seres superiores


Dentro de cada um de nós, existe um carrasco, pronto a julgar, condenar e até matar o próximo. Pensamos ter infinita sabedoria, e capacidade de julgar baseado em nossa própria existência e em nossas convicções, pensamos ser bons demais em tudo o que fazemos. Acreditamos que enxergamos o bem que o outro não consegue. Acreditamos sermos donos das virtudes que os outros não possuem, sermos senhores da razão e domadores da emoção. Achamos que somos poderosos, que o mundo gira à nossa volta e não entendemos quando questionam nossas reais intenções e interpretações.
O vizinho do lado é sempre um fofoqueiro, os amigos do trabalho, uns invejosos. Que dizer dos familiares...sempre são folgados ou sanguessugas. Os conhecidos, eternos desconhecidos de hábitos estranhos e constrangedores. Tem gente que não sabe se vestir, outros não sabem como se portar...temos até vergonha de nos misturar...ah, essa gente...
Cada qual achando-se bom demais, superior...
Difícil viver em em meio a imperfeição, não é? Posto que você  é sábio, virtuoso, racional, amoroso, caridoso e ainda por cima...bem vestido. Ah...como é difícil esta convivência com os inferiores...
O problema que o outro enfrenta, para ele tão grande, mas para você, fácil, fácil de resolver. As decisões que eles tomaram, tão erroneamente, para você não teriam sido nem cogitadas, pois você tem o dom de enxergar adiante, pensar primeiro, agir friamente e visualizar o futuro.
Já os seus problemas, sempre tão gigantescos, não poderiam ter solução senão a pensada e executada por você, e quando não dá certo, não foi erro seu, mas de um outro que atrapalhou tudo, só para variar...incompetente.
Os outros são dispersos, sonhadores, amalucados... Você? Você é centrado, pé no chão, um ser sensato e organizado.
O que acontece com a humanidade? Ah...se todos fossem iguais a você...que maravilha seria viver...
Paulo Coelho em seu livro Maktub, tenta nos passar o que é a verdadeira sabedoria, conhecedora da humildade da quintessência de nosso ser. Em um dos muitos ensinamentos transcritos ali, há um em especial, que diz tudo, tento aqui repassá-lo com minhas palavras:

"Um ermitão considerado um grande sábio, é chamado a um mosteiro para julgar um monge que havia feito algo errado. Após muito insistirem e ele muito relutar, finalmente aceita ir ao mosteiro. Antes porém, pega um balde e fura-o em diversos lugares, depois o enche de areia e dirige-se ao mosteiro. Chegando lá, é recebido à porta pelo monge responsável, que ao ver a areia saindo do balde, pergunta o que aquilo significa. O ermitão então esclarece:
_ Meus pecados estão escorrendo atrás de mim pelo caminho, mas mesmo assim vim julgar meu próximo.
Ouvindo isso, os monges decidem esquecer o castigo do dito infrator."

Alguma pergunta??

Humildade...está em falta, não é mesmo?


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